por Karina Merlo
A capital baiana, Salvador, foi hoje um exemplo de fé, de manifestação religiosa e festa. A cidade mostrou para o mundo que não importa a religião se há crença no Senhor. Em tradicional homenagem, conhecida como "festa mundana", na qual baianas e fiéis seguem em direção à famosa e secular Igreja do Senhor do Bonfim na colina sagrada, cerca de 800 mil pessoas participaram da homenagem ao Nosso Senhor.
É um longo percurso, onde a fé vai se manifestando e contagiando o cortejo. Há os que fiquem no meio do caminho - como ovelhas desgarradas do rebanho. Entretanto, o mais curioso é que, pela primeira vez, a igreja católica se une ao misticismo da festa - um belo exemplo de união pela fé, e não pela religião ou credo.
Segunda maior festa popular da Bahia, depois do Carnaval, a lavagem das escadarias da igreja de Nosso Senhor do Bonfim quebrou uma tradição nesta quinta-feira: pela primeira vez, em mais de 250 anos, um padre abençoou o cortejo formado em sua maioria por adeptos do candomblé. (1) Em momento de reflexão e emoção, padre Edson Menezes apareceu na janela do piso superior com Jesus crucificado e abençoou todos os presentes, sem nenhum preconceito - somente imerso em humildade e respeito à fé dos fiéis. "Tenho uma grande admiração pelas manifestações populares, a festa do Senhor do Bonfim resume muito bem a religiosidade e a crença do nosso povo. Achei que ficava um vazio sem a bênção e pedi permissão para a Arquidiocese", disse o padre. Depois de um culto ecumênico na igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, os baianos e turistas iniciaram uma caminhada de oito quilômetros até a igreja do Bonfim. Durante o trajeto, sob um calor de 31º celsius, cânticos ligados ao candomblé foram entoados pela multidão. Na chegada ao templo, mais uma novidade: a porta principal estava aberta, por determinação da Arquidiocese de Salvador. Desde 1890, durante a lavagem das escadarias, a igreja sempre esteve fechada para evitar a eventual destruição de imagens sacras. Enquanto a multiplicidade religiosa promove conflitos pelo mundo afora, a Bahia se une em amor ao Nosso Senhor em graça e festa. É um exemplo singular de respeito às ideologias do ser humano, que por caminhos diferentes busca o mesmo ideal: a paz e bênção do Senhor Jesus, em suas várias versões e nomes. Exemplo democrático e constitucional das garantias dos direitos fundamentais resguardadas pela Carta Magna em seu art. 5º, VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.
Um comentário:
Parabens pelos comentarios a respeito do sincretismo religioso na Bahia.Essa mistura de crenças ficam batante evidentes nessa festa de "Lvagem das escadarias" da Igreja do Senhor do Bonfim. Como voce frisou, o mundo deveria se espelhar nessa forma de proceder com diversidades religiosas. Muito bem. Jayr
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