segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A redução da maioridade penal no Brasil


por Karina Merlo
Questões que caíram no esquecimento: redução da maioridade penal, liberação do aborto ou apenas para fetos anencefálicos, aumento de penas para crimes hediondos... tanta discussão e pouca decisão.
Vamos com calma. Iniciemos a nossa extensa pauta com um tema que, além de polêmico, cada vez se torna uma grande necessidade de ser repensado: a redução da maioridade penal.
Em pleno tiroteio de opiniões, há até pouco tempo atrás eu dizia ser contra a redução da maioridade penal no Brasil e os meus argumentos eram os mesmos dos inúmeros defensores dos direitos fundamentais: a criminalidade é um problema social. Como punir nossas crianças e adolescentes pela falta de chances no transcorrer da sua vida? Afinal, esses inimputáveis deveriam estar estudando, brincando, seguros entre os seus familiares, e assim, garantindo um futuro melhor para eles e para a sociedade.
Pura ficção. O próprio Presidente Lula em um dos seus discursos pregou essa velha ladainha, e o que fez para dar melhores condições à “galera”? Nada. A educação no Brasil é considerada da pior qualidade: professores ganhando uma miséria, escolas sem infra-estrutura e com as suas diretorias corrompidas pelos cargos em comissão pressionando os professores a passar seus alunos de ano e empurrar o problema para frente! Aliás, com o sistema de cotas, que agora é estendido aos alunos da rede pública, o problema nem é tão grande assim. Quem sabe os professores universitários consigam ter paciência e, finalmente, ensinem aos seus alunos a ler e escrever.
A maior e dura questão de encarar é: o que dá mais lucro ao adolescente? O bolsa-escola ou o mundo do crime? Para aqueles que ainda não tem idéia de suas responsabilidades como cidadão – ele nem sabe o que significa isso – claro que o mundo do crime vem cheio de emoções e compensações.
Aprofundando meus estudos sobre os crimes de furto e roubo - categoria mais comum entre esses jovens - deparei-me com várias jurisprudências interessantes sobre concurso de agentes. Vale destacar uma do STJ: “O Código Penal é o código das pessoas maiores de idade. Por isso, entende o Relator , a qualificadora do concurso de duas ou mais pessoas pressupõe, nos crimes de furto e roubo, por exemplo, concurso de pessoas imputáveis. Não é, portanto, qualificado o furto por pessoa imputável e pessoa inimputável (menor de 18 anos)”. (STJ, HC 38097/SP, Rel. Min. Nilson Naves, 6ª T., DJ 04/12/2006, p. 379).
É notório se deduzir o porquê dos bandidos em atuarem sempre com os inimputáveis jovens. Caso sejam pegos, não incidirá a qualificadora sobre eles, e quanto ao menor será aplicada medida sócio-educativa. Simples. É com esses incentivos que jovens são introduzidos à delinqüência e, principalmente, ao crime organizado (que de tão “organizado” deixa qualquer instituição de segurança pública desarticulada e, ainda, com inveja da sua estrutura e preparo).

Somente três países no mundo mantêm essa velharia de maioridade penal aos dezoito anos: Brasil, Colômbia e Peru. O resto do universo fixou a responsabilidade penal abaixo dos dezesseis anos, a maioria aos dez. E o fizeram racionalmente, sem emoção, isto é, diante da realidade atual cientificamente comprovada: o jovem acima de dez anos distingue perfeitamente entre o bem e o mal. O cumprimento da pena, sim, é diferenciado. Enquanto menor, em instituições educacionais. Ao atingir a maioridade é transferido para a penitenciária. Transforma-se em preso alfabetizado, mas fica longe das ruas até o final da pena.

A maior contradição é o jovem a partir dos seus dezesseis anos poder decidir o futuro político de toda a sociedade, mas não ser capaz de responder criminalmente pelos seus atos. É uma discrepância incomum.

A verdade é que o governo brasileiro não está preparado para lidar com o aumento do índice de criminalidade. Os interesses políticos são outros: o desemprego, o reflexo da crise econômica externa, a falência da previdência, e os inusitados meios de desviar a arrecadação do contribuinte através de contas fantasmas, maletas e até cuecas!

E onde ficam os direitos fundamentais desses jovens? Encontram-se positivados na Constituição de forma genérica, e mais formalmente no Estatuto da Criança e do Adolescente. Leis. Leis e mais leis para uma sociedade doente onde o crime é o câncer que vitimiza cada vez mais aqueles que tentam se manter saudáveis – os bons cidadãos. Para cada problema uma lei, e não uma solução. Se fossem leis consistentes, sem brechas, não seria preciso criar mais leis. Leis para sanar outras leis. E a realidade vai se distanciando cada vez mais do papel...

6 comentários:

Anônimo disse...

Nobre colega, só hoje vi seu email. Nosso país esta precisando de outras soluçoes como: educaçao, saude e emprego, reduzir a maioridade, nao sera a soluçao.
abjs
Cesar

Karina Merlo disse...

Oi caríssimo!
Claro que não é a solução. Assim como o sistema de cotas não é a solução para a educação. o bolsa família não gera emprego. O bolsa escola não mantém ninguém culto ou letrado. Em meio a esses paliativos é que acho que devemos procurar caminhos que diminuam o uso do adolescente pelos criminosos em seus ilícitos.
A solução para o crime não é papel do direito penal, e sim, de programas de governo eficientes, sérios e a longo prazo. Como os governos são transitórios, não se faz muita coisa, afinal quando o programa dá certo, o poder já está nas mãos de outros governantes. É como vc implementar e o outro colher os louros. Essa é uma realidade infeliz.
Fique na paz.
Boas férias e feliz Natal!
Beijos

Anônimo disse...

Minha amada amiga Karina... só quem já passou pelas penitenciárias e cadeias do Brasil pode falar sobre a questão "maioridade penal"... Sabe-se que a evolução do tempo fez com uqe o menor de ontem não tenha a mesma visão do menor dehoje, entretanto quanto de nós (mesmos os de ontem) não jogamos pedras em vifraças.. quebramos lampadas dos postes... ou mesmo nos "atarravamos" nas ruas e praças... a violência é fruto da falta de presença do Estado, escolas são feitas para sociabilizar e educar o animal faber, mas as nossas escolas educam? temos emprego para que seja possível fugir da miséria? Sei que você é uma jurista de reflexão e visão aberta... Veja que a redução ao invês de resolver a questão vao acumular ainda mais um bando de homens junto a crianças e adolescentes... o argumento de que o mensor ficaria separado até a atingir da idade adulta não resplandece posto que, ficando preso cessa a sociabilização (não se pode sociabilziar entre quatro paredes) de forma que, ao ser transferido para sistema pior que o anterior a coisa rende a piorar e muito.

Karina Merlo disse...

Meu amado amigo Jhorgee,

Sabemos que a ressocialização é uma utopia, que em verdade, a recuperação depende muito mais do esforço do preso do que das condições do sistema. Para os menores falo em um sistema especial, de formação, coisa que eles não tiveram oportunidade de ter nas ruas ou em seus lares e seria destinado para "tipos penais" específicos. Infelizmente não me aprofundei muito no tema. A discussão rompe as barreiras da redução da maioridade penal para a falência do sistema carcerário. Prepararei um artigo específico sobre isso, um pouco revolucionário, e conto com o seu experiente posicionamento.
Só não quero que a nossa juventude seja instrumento de crime pelos mais experientes e espertos que sabemos que estão por aí usando esses desafortunados e os inserindo no crime por serem inimputáveis.
Abração!

Blog da Day disse...

Querida amiga, já ouvi por diversas vezes de colegas o seguinte: " De que adianta se o policial prende e o juiz solta?" O fato é que o nosso Código remonta de 1940 e que infelizmente, as mentes brilhantes, que se encontram em Brasilícia ( como por exemplo: Frankin Aguiar, vulgo: Cãozinho dos Teclados, Clodovil e dentre outras "celebridades") não estão preparados para elaborar leis. Como esperar que uma lei seja bem feita, sem lacunas, sem buracos??? É impossível né minha amiga! O interesse do Estado é perpetuar a ignorância através da falta de cultura, de acesso a educação de qualidade. As nossas escolas não formam questionadores e sim pessoas que não estão habilitadas a pensar... Eu sei que a redução da maioridade penal ainda não é a solução para o fim dos problemas de violência que assola o nosso país. Mas, aceitar de braços cruzados que um delinquente juvinil mate, roube e estupre fiqye apenas condicionado a apenas um ato infracional -isto é abominável!!!!! Concordo com o colega que disse sobre a superlotação nos presídios, tb temos que analisar isto... O fato é que a mudança tem que começar de cima. A educação de qualidade, a distribuição de renda de forma justa e equilibrada, acesso a cultura, acesso a um sistema de saúde eficaz, enfim, uma politíca voltada não para interesses escusos de nossos políticos, mas uma política que vise um Brasil melhor, sem as famigeradas mazelas sociais que todos conhecem e estão cansados de ouvir e assistir nos telejornais. Mas p/ isso é necessário a boa vontade de todos que se encontram no poder.

Um abraço

DAyana

Anônimo disse...

Oi Karina

Postei no meu blog, um vídeo feito com base no texto "Maria Farrar" de B.Brecht. Conta a história real, da menina condenada à morte.
É muito interessante!

Abraços