O cirurgião dentista que arrancou todos os dentes do adolescente César Oliveira, 17 anos, no Hospital Regional da Asa Norte, em Brasília, deverá ser indiciado por lesão corporal gravíssima. O diretor do Instituto Médico Legal, Malthus Fonseca Galgão, afirmou que não existia nenhuma indicação de que todos os dentes do adolescente precisassem ser arrancados. O laudo do IML indicou que deveriam ser retirados apenas dois dentes - o siso e o segundo molar - por dificuldade de escovação.
Além do laudo do IML, a polícia ouviu dentistas que fazem estágio na clínica de uma universidade particular de Brasília que, por convênio, faz tratamento dentário em alunos da Apae, como César. Elas foram ouvidas por quase cinco horas na 5ª Delegacia de Polícia e negaram que o garoto precisasse arrancar todos os dentes.
- As próprias estagiárias declararam, após a intervenção cirúrgica, espanto, surpresa com aquele procedimento. Uma delas chegou a comentar: 'Se fosse meu filho eu não permitiria" - diz o delegado Laércio Rossetto.
" E ainda comentaram: 'Olha como os dentes dele estão alinhados "
Segundo Rosseto, a polícia já tem provas suficientes para indiciar o cirurgião-dentista por lesão corporal gravíssima.
- A gente tem plena convicção de que ele tirou os dentes de livre e espontânea vontade, porque assim bem entendeu que deveria fazer. No momento da cirurgia, as próprias estagiárias, e o doutor responsável pela cirurgia, constataram que os dentes do César já eram tratados por um odontologista, havia um tratamento ortodôntico pra corrigir os dentes. E ainda comentaram: 'Olha como os dentes dele estão alinhados' - diz Rosseto.
Para o diretor do Instituto Médico Legal (IML), Malthus Fonseca Galgão, está claro que não existia necessidade de extração.
- Mesmo se eu não tivesse a radiografia anterior, só com a final pela forma dos remanescentes auveolares, os locais onde os dentes se encaixam, é possível afirmar: não existia indicação, não existia necessidade da extração de todos os dentes, somente de dois elementos dentários - assegura Galgão.
César foi atendido na clínica da odontolótica da universidade durante sete meses. Foi um tratamento longo e, quando ele terminou, estava sem cáries, sem placa e com o alinhamento perfeito dos dentes. A indicação dos dentistas que apenas dois dentes fossem arrancados no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A notícia de que todos foram extraídos surpreendeu os profissionais que atendiam César.
Com o prontuário de César em mãos, o coordenador da odontologia, Cláudio Maranhão, lembra que ele gostava do tratamento e cuidava muito bem dos dentes com a ajuda da mãe.
- Partindo do pressuposto que ele saiu da universidade em maio com uma ótima higienização, uma boa condição bucal, não esperávamos isso, e sim que apenas dois dentes fossem retirados - diz Maranhão.
O cirurgião-dentista que fez o procedimento não compareceu ao depoimento marcado para esta sexta-feira. O advogado dele apresentou um atestado médico de 60 dias, mas apenas para afastamento do trabalho. O delegado espera ouvi-lo na próxima semana e concluir o inquérito.
Fonte: O Globo
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