Do que devo me libertar?

por Karina Merlo

São poucos os que creem no poder da renovação. Deixar o que não lhe serve mais para trás, traçar novos planos, arriscar-se em novas conquistas, tentar novamente e fazer diferente são desafios que o destino nos impõe em vários momentos na nossa trajetória de vida. A mudança na estratégia de se viver e seguir em frente, muitas vezes, é assustadora, pois o desconhecido sempre é temido; mas a já velha e conhecida desgraça às vezes se demonstra mais atraente para os que se acham espertos e até capazes de dribá-la por tê-la, há muito, como sua fiel companheira.

Para os cristãos, a Páscoa significa renovação e libertação: a necessidade de morrer para “ressuscitar”, ou seja, renascer para uma nova vida. Isso requer coragem. Jesus se tornou um modelo por ter levado esse plano de Deus tão a sério, entregando a sua renovação ao seu povo. Morreu por todos, enquanto nós mesmos não temos a coragem de matar nossos valores que não prestam e, assim, tornar-nos alguém um pouco melhor. Por isso é que a nossa sociedade se compõe cada dia mais de pessoas medíocres, egoístas e sem compaixão. O medo nos faz olhar continuamente para nós mesmos – seres trancafiados numa prisão psicológica onde o próximo não pode ultrapassar os limites das nossas conquistas, dos nossos objetivos gananciosos. Presos na prisão do próprio eu interior.

E o mundo vai ficando cada vez pior. Isolamo-nos cada vez mais, pois o que nos pertence sempre é pouco para nós mesmos, e representa o impossível a ser compartilhado com quem nada tem. Que esperança há de existir nessa roda viva? Qual o sentido de viver sem um propósito maior? Um plano que exorbite a esfera do “eu”, afinal anos atrás eu não existia, nem você, nem milhares de pessoas com quem convivemos, ou sabemos que de alguma forma elas existem: ou porque nós lemos, ouvimos ou vimos isso em algum lugar. De onde viemos? De onde vieram? Isso não mais importa, afinal, o fato é que todos irão para o mesmo lugar. O que realmente permanecerá é a história desse ser humano.

Então, caro amigo leitor, minha mensagem nessa Páscoa, nessa Semana Santa ou nesse Feriadão, é que você tente ser mais feliz percebendo que o seu existir faz com que muitas pessoas se sintam felizes também. Ser bom não é algo sobrenatural. É a essência do ser humano. Resgate a sua caso ela tenha se perdido nas armadilhas do seu destino, e mostre que a força provém de determinação. Viva a sua passagem de maneira que você seja lembrado como alguém de valor, que ao menos tentou contribuir para um mundo melhor. Não queira ser mais um canalha, um marginal, alguém que precise ser passado ao esquecimento pelas dores e maldades que espalhou um dia. Vire a página, vire a mesa, mas antes de mais nada, vire alguém bem melhor.

Comece agora. Do que devo me libertar?